JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA
( Portugal )
(Lisboa, 11 de maio de 1744 — Lisboa, 1 de janeiro de 1787)[1] foi um militar, cientista, matemático, poeta, tradutor e professor de matemática e geometria. Nomeado Tenente do Regimento de Artilharia do Porto e aquartelado na Praça de Valença do Minho. As suas obras científicas e poéticas ficaram caracterizadas pela presença de ideais como a tolerância, o deísmo e o racionalismo, devido ao contacto com oficiais protestantes ingleses.
O matemático foi nomeado pelo Marquês de Pombal, lente de Faculdade de Mathematica na Universidade de Coimbra quando ocorreu a Reforma Pombalina nesta mesma Universidade.
Condenado pela Inquisição à pena de reclusão pelo crime de heresia, a importância deste cientista português do século XVIII só viria a ser reconhecida em fins do século XX, pela sua contribuição para a reforma do cálculo infinitesimal, assim como pelo seu valor literário.
(...)
Durante o processo
José Anastácio da Cunha fez uma confissão de modo a não comprometer ninguém que pudesse ser preso de forma a demonstrar que estava arrependido. Apesar da confissão, o poeta acabou por sofrer uma pena pesada. Portanto, o professor foi condenado à reclusão durante três anos na Casa das Necessidades da Congregação do Oratório, ao degredo por quatro anos na cidade de Évora, afastado dos seus cargos na Universidade, confiscaram os seus títulos e bens e foi proibido de regressar a Coimbra e a Valença.
Depois do processo
Independentemente de ter a companhia dos seus amigos, de usufruir da biblioteca na qual aprofundou e desenvolveu os seus conhecimentos matemáticos e ter aproveitado para rever e editar os textos que iriam fazer parte da obra - os Principios Mathematicos, os três anos na Congregação do Oratório foram muito duros.
No final do ano de 1780, após um ano de reclusão, solicitou o perdão à Inquisição tendo sido aceite. Embora estivesse em liberdade passou por dificuldades financeiras, perdeu prestígio na sociedade lisboeta, incluindo nos salões frequentados pelas damas da corte. O que lhe valeu foi o auxílio de Diogo Inácio de Pina Manique (1733 - 1805) que, em 1781, decidiu por em funcionamento no Castelo de S. Jorge a Casa Pia, talhada a abrigar mendigos e órfãos.[6] O professor foi aí nomeado Regente de Estudos e Substítuto do curso de matemática (professor de matemática).
(...)
Fragmento de biografia extraída de: https://pt.wikipedia.org/wiki
JÁ QUASE ATÉ MORRIA
Já quasi até morria
C’os olhos nos da amada.
E ela que se sentia
Não menos abrasada:
- “Ai, caro Atfes! – dizia -
Não morras inda, espera
Que eu contigo morrer também quisera”
A ânsia com que acabava
A vida, Atfes, refreia,
E, enquanto a dilatava,
Morte maior o anseia.
Os olhos não tirava
Dos do ídolo querido,
Nos quais bebia o Néctar diluído.
Quando a gentil Pastora,
Sentindo já chegada
Do doce gosto a hora,
Com a vista perturbada
Disse, tremendo: – “Agora
Morre, que eu morro, amor”
- “E eu – disse ele – contigo”
Viram-se desta sorte
Os dois finos amantes
Mortos ambos de um tal corte;
E os golpes penetrantes
Desta casta de morte
Tanto lhe agradaram,
Que para mais morrer recuscitaram.
FRAGMENTO DE UMA CARTA
Ao menos se eu tivess
Um Amigo fiel, Sábio e prudente,
Com que aqui vivesse
Que os meus males sentisse, e que eloquente
A mostrar me ensinasse
Ao negro fado com rosto indiferente...
Com que aqui passasse
A ardente sesta, a fria madrugada,
Sem que o fado estorvasse...
Ou do Sereno Minho a prateada
Corrente contemplando
Ou debaixo de uma Árvore copada,
Por bosques passeando
Em que não entra o Sol, e o doce Canto
das aves escutando...
Se ao menos o tivéssemos
Quando a Noite estendesse o negro Manto...
Se então gozar pudéssemos
De conversações doutas e selectas
Com que à noite entretêssemos
No curso dos Planetas
De Copérnico, de Newton praticando,
De Halley, dos seus Cometas
As Causas, os Efeitos ponderando...
Dos homens a loucura
Os defeitos, os crimes detestando...
Já tive esta Ventura.
Já gozei, já gozei alegres Dias.
Ah! Tempo! Ah! Sorte dura!
Se c´um Amigo tal me socorria
Que melhor me ajudasse
A suportar as tuas Tiranias!
Que a sofrer me ensinasse
Intrépido a presença do Sargento
Que antes que uma hora passe
Causticar me verá (Senhora rima,
Ature-a a quem quiser) que me não deixa
Um instante sequer, a qualquer parte
Que os olhos volte, o vejo, que apressado
A mim direito vem: — Senhor Tenente,
Assine-me este mapa. — É necessário
Fazer outro caderno. — V. m. tal qual preso
— Fulano foi de Guarda para o Campo,
— Amanhã, às seis horas, na parada —
E isto sem descansar um só Instante!
Ei-lo, ei-lo comigo, agora, agora...
— Com licença, já torno. — Veja se há-de
Algum aturar isto! Mas agora
Reparo que também bastantemente
O tenho causticado c´os meus versos.
Baste, baste de versos: já tão duros
Parecendo-me em vão, que nem eu mesmo
Posso sofrê-los já. Baste de versos.
OS PORQUÊS DO AMOR
Céu, porque tão convulso e consternado
Me bate, ao Vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?
Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?
Porque a luz dos seus olhos, tão activa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?
Porque da mão nevada sai tão viva
Chama, que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!
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Página publicada em novembro de 2021
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